Desde o fracasso na Copa do Mundo 2014 – o maior da história da seleção brasileira, era esperado que Tite passasse, já naquele momento, a comandar a seleção brasileira. A final de contas, nada mais justo do que o melhor técnico brasileiro receber uma oportunidade de treinar a Canarinho. Pois não. A CBF decidiu que era hora de dar mais uma chance a Dunga, quem já havia treinado o Brasil de 2006 a 2010, e não mostrou muitos recursos na Copa do Mundo da África do Sul.
Na última quinta-feira, com pouco mais de dois anos de atraso, Tite, enfim, estreou como técnico da seleção brasileira. E a impressão que ficou foi positiva. Para quem estava acostumado treinadores que não estavam aptos ao cargo, ter alguém preparado no banco de reservas passa uma confiança enorme aos torcedores.
Jejum de 33 anos quebrado
Assim como em qualquer situação do esporte, a estreia nunca é fácil. Quando uma nova era numa seleção do tamanho da brasileira está começando, isso é ainda maior. O primeiro tempo da Canarinho não foi tão empolgante. As costas de Daniel Alves viraram uma avenida; Paulinho chegava bem ao ataque algumas vezes, mas não conseguiu dar sequência às jogadas; Renato Augusto jogando um futebol bem longe do apresentado nos Jogos Olímpicos.
Faltava algo. Alguém que fizesse o jogo defesa-ataque fluir com mais facilidade.
Na segunda etapa, Tite optou por substituir Willian por Coutinho. O craque do Liverpool entrou incendiando a partida. Com muita movimentação, criou boas oportunidades com poucos minutos em campo. Entretanto, a melhor delas saiu em um deslocamento de Gabriel Jesus pela esquerda, que foi encontrado por um lindo passe de Casemiro. Jesus ganhou do zagueiro, tirou o goleiro e sofreu o pênalti.
Neymar tinha em seus pés o pênalti da tranquilidade. Assim como teve, duas semanas atrás, no Maracanã, naquela disputa por pênaltis que deu a medalha de ouro inédita ao futebol brasileiro. O atacante do Barcelona converteu, colocou o Brasil na dianteira e, daí para frente, a amarelinha passou a ter o domínio total da partida.
Com a penalidade sofrida, Gabriel Jesus tirou o peso das costas. A partida dele já era boa, mas a partir disso, sua estreia na seleção principal passou a ser excepcional. O atacante do Palmeiras anotou os outros dois tentos da Canarinho, com duas finalizações de quem entende bem sobre colocar a bola dentro da casinha. A camisa 9 que andou abandonada nos últimos anos de seleção brasileira, talvez tenha, enfim, encontrado um novo dono.
Depois de 33 anos, o Brasil voltou a vencer um jogo de Eliminatórias no Equador. Simbólico para o novo momento em que vive a Canarinho.
Reflexões que ficam
Os brasileiros tinham saudades de ter um bom treinador, com ideias de futebol modernas, antenado e atento em como seus atletas jogam em seus clubes. Cansamos de ver Dunga escalando Coutinho, Neymar, Willian, Firmino e outros em funções ou posições diferentes das que estão acostumados a jogar. Obviamente, os resultados não eram satisfatórios, os craques iam mal e a seleção, consequentemente, também.
Daniel Alves e Marcelo, dois dos melhores laterais do mundo, não conseguiam exercer suas funções com a amarelinha. Como são muito ofensivos, sempre deixam espaços em suas costas. Se o sistema defensivo não cobrir quando os laterais subirem, temos um problema. E era exatamente o que acontecia.
Antes da vitória contra o Equador, Tite disse que queria “o time atacando sempre com seis jogadores e explorando o jogo apoiado”. Foi exatamente o que apresentaram dentro das quatro linhas. Após o jogo, ele voltou a repetir: “A Alemanha joga assim, o Barcelona também, o Liverpool, o Real Madrid, e as características do futebol brasileiro permitem isso. Será assim. O mais importante é ter tempo para que isso se implemente bem. Fico feliz que rolou uma química rápida para este primeiro jogo. A ideia básica são esses seis no ataque, o jogo apoiado e as inúmeras triangulações”.
Uma ideia de trabalho que não víamos nos treinadores anteriores. Afinal, desde Felipão, em 2002, o Brasil não tinha em seu comando um técnico que realmente merecia estar ali, e que estava preparado para a função. Em 2006 a Canarinho foi comandada pelo Parreira, que já estava em decadência. 2010, por Dunga, que fazia, ali, seu primeiro trabalho como técnico de futebol. A preparação para a Copa de 2014 foi iniciada por Mano Menezes, um treinador com ideias modernas. Entretanto, quando o gaúcho começou a colocar o nos eixos, a CBF optou por demiti-lo e trazer de volta Felipão. O resultado todos já sabem: 7 a 1.
Apostas em jovens era algo que víamos pouco. Neymar e Ganso não foram para a Copa de 2010 por serem muito jovens. Em 2014 também não tivemos nenhuma revelação, mesmo com a vaga de centroavante estando aberta.
Tite já mostrou que com ele isso não será problema. Em sua primeira convocação, já levou Gabriel Jesus e Gabigol. Walace e Luan, ambos do Grêmio, são nomes que foram muito bem nos Jogos Olímpicos e devem pintar nas próximas convocações.
Dar tempo de jogo para eles é fundamental para que sintam menos a pressão em jogos futuros. Depois de 7 a 1 e eliminações precoces em Copa América, é o futuro que tem de ser pensado. E, com Tite no comando, o futuro é promissor.